terça-feira, 13 de junho de 2017

"INSPIRADO EM UMA PARÁBOLA"

Eu vivo em uma caverna, nela todos os moradores são obrigados a ouvir um único e específico discurso nos meios de comunicação de massa, dos quais nos alertavam sobre o bicho grande monstro mal de cor avermelhada. Todos nós morríamos de medo de encontrar-lo, até mesmo ouvi-lo, pois, reza a lenda que sua voz e suas palavras enfeitiçariam os que lhes dessem essa oportunidade.
O discurso muitas vezes repetido tinha o poder de desencorajar qualquer um de nós a questionar os fatos relatados. Lembro-me que uma vez um ancião descreveu um encontro que teve com o bicho, depois disso ele nunca mais foi visto entre nós, dizem que foi transferido para outra caverna, se é que me entende. Porém, sua história ressoa até hoje em meus ouvidos. Ele contou que num dia rotineiro, de trabalho, carregando as pedras do lado de fora da caverna para o de dentro, foi despertado por um barulho totalmente novo, ele nunca tinha ouvido aquilo antes. Descreveu o ruído como uma onda sonora, a qual ecoava a palavra de ordem: "Abaixo a ditadura".
Assustado, todavia bem mais curioso, perguntou ao monstro o que era ditadura. O bicho respondeu que ditadura era a imposição de regras injustas, costumes desiguais e a proibição da liberdade de questionar, isso a grosso modo. Nesse momento o ancião percebeu que era aquele regime empregado na caverna, pelos homens que só fazem se reunir pra decidir sobre sua vida. Quando retornou pra caverna naquele dia relatou as coisas que lhe foi mostrada e ditas. Ele ainda falou de direito ao descanso no trabalho, sobre a quantidade de horas diárias permitidas de trabalho que deveríamos ter, entre outras coisas que me saltaram os olhos. Porém, no dia seguinte o ancião foi transferido e o vermelhão caçado e preso, por aproximadamente 31 dias, pois, depois dessa data ele conseguiu fugir.
Passaram-se 34 anos até termos a informação que o malvado reapareceu, nos meios de comunicação disponíveis na caverna falavam que o bicho grande tinha sido visto roubando a comida da população, a indignação foi geral. Mas, aquilo pra mim parecia estranho. O de cor vermelha parecia conhecer o que o povo precisava e isso iria de encontro com a notícia, algo não tava batendo.O vermelho não tinha sido capturado dessa vez, e as acusações do roubo não foram totalmente explicadas porque até hoje, 3 anos depois da acusação do furto ocorrido, ninguém conseguiu relatar uma história que convencesse como o monstro fez para entrar e sair da caverna com a comida e não ser visto por todos. Isso levantou suspeita de armação, para denigrir os pensamentos e palavras de ordem ditas pelo avermelhado. Mas, as informações veiculadas nos convenceu ao contrário. Quem mais faria uma coisa dessas?
Hoje é proibido até pensar nas palavras de ordem. Hoje a palavra é de ódio:
"MATEM O BICHO GRANDE MONSTRO MAL DE COR VERMELHA".

P.S. Esse é um texto de ficção, inspirado na parábola das rãs e do pintassilgo, qualquer semelhança com uma história real é mera tentativa.